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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

AINDA DE ROUPÃO, PIJAMA E CHINELOS E O VELHO AMARGOR NA BOCA A TEMPOS IDOS

Não é por mais cedo se saltar da cama que o dia amanhece mais cedo e mais lépido torna quem o fizer. O espaço temporal a viver, desperto ou ainda envolto pela mornidão da concha mental, é em tudo igual ao que todos os dias acontece a toda a gente, com maior ou menor fastio de bocejos lá para dentro da tarde, à fatídica hora da sesta. Durma-se o que se durma. Esteja calor de artifício (se outro melhor não houver por aí nas redondezas), esteja frio de rachar pedras a murro. Apeteça ou não foder, se houver com quê e com quem.

Atenção, leitores, isto não pretende ser mais que um ensaio. Quis ver até que ponto resultaria a inclusão no texto de uma dessas palavras ditas “proibidas” por via do cuspo a mais, quando despejada assim, sem prévio aviso nem comas de protecção ante olhos moles, no meio de outras consideradas “normais” em quaisquer bocas.
Claro que me refiro, como bem se vê, ao palavrão "redondezas".

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

PRESO AO MEU MAIOR AMIGO PELA TRELA DO PASSEIO MATINAL DE CADA DIA

Possui-me uma melancolia já um tanto comparável à pieguice. O que muito me chateia. De quando em quando, conclui-se que, dentro de nós na cisterna íntima onde conservamos as lágrimas vertidas, antes que se evaporem e se esqueçam, e as que pensemos verter em futuras enxurradas vivenciais –, se guarda uma quase infinita reserva de água salgada, qual oceano sem qualquer possibilidade de se ver delimitado por mapas, tantas serão as correntes opostas à rota em que almejemos navegar, a nado ou de bote, e chegar a bom porto.
A solidão dói, é um facto. Mas dói menos que a injustiça de quem de nós se valeu e hoje nos cospe o nome, nos renega a relembrança, nos condena a que nos metamos e escondamos nos confins de quem bem sabemos que somos, bem ou mal, perto ou a perder de vista de quem mais sonhámos ser e de que nem sombra sejamos.
Também há os casos menores, em que um simples desentendimento ganha asas e evolui com o vento dominante na ocasião. E se toca, ao de leve que seja, no melindre penugento da sobredita injustiça, nada mais haverá a invocar no intuito de consertar os estragos. E o que era formoso, empalidece. O que era honesto, envilece. O que era ardente, empobrece e desaparece no ar, que nem cometa sem cauda ou sequer núcleo e cabeleira com direito a órbita na memória.
Insisto, no entanto, em que é quase pieguice esta minha melancolia.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

DA VANIDADE DE SE PENSAR MUITO NO QUE SÓ A OUTROS ACONTECE (ANTES DE NÓS)

Ao jeito de quem leia um quadro, remira o espelho e vê-se, por fora e por dentro: o rosto, outrora moreno sem excessos, está obscuro, entre cinzento e averdungado, ao evidenciar a mistura dos tons naturais da pigmentação da pele com os que a ruindade da maleita nele fabrica e deposita, pardacentos, enquanto lhe rói e destrói corpo e crença, hora a hora, sem apelo. O branco dos olhos, como se alguém, por indizível malfeitoria, lho colorisse, tornou-se amarelo de gema, mas incapaz de chocar e parir seja o que for que valha o tempo de vida. Já a magreza de esqueleto andante ainda em avanço, se outros sinais não houvesse, espelho nenhum lha desmentiria.
A realidade é inequívoca. Por muito que a utopia da esperança teime em pôr velas no altar a si própria, os dias vividos já são contados um a um, desde a dúvida matinal de estar acordado ou não, até ao sufoco nocturno de não saber se aquele sono terá fim de luz nos olhos com o alvor longínquo de nova manhã.
E depois, no rodízio dos pensamentos em aceleração contínua, várias são as frentes do incêndio íntimo a debelar, entre as quais se realça a do suplício imposto pela sensação de injustiça: cinquenta e dois anos não são anos que se tenham para se ter uma doença destas. Dobrado o cabo de meia viagem há tão pouco tempo ainda, e já se lhe vislumbra no horizonte a vastidão do horizonte em falta?
E a cobardia dos amigos, que pensar dela? Como mastigar e digerir a fuga de quantos eram tronco comum, eram projectos repartidos, eram a razão de ser de se não ser bicho, eram o dia a dia feito em rampa de ascensão ao lado de lá da lua sem tirar um pé do chão, eram o tempo consumido impresso em datas cujo trajecto ganhasse direito a registo nos mais dias a consumir? Com que dentes se sorri e se finge aceitar incontornáveis afazeres como inconvicta justificação, nunca desculpa, se se sabe ser a presciência de não haver palavras sem gume nem dor que à distância os mantém, à espreita, esperando a hora?
Qualquer espelho só nos mentirá enquanto o olharmos. Ou enquanto, para o olharmos, tivermos olhos e luz. À pedrada, apague-se a luz ou despedace-se o espelho. Morrer não dói mais que nascer. E deve doer bem menos que viver com a morte à vista, ali a dois ou três meses de dias contados e recontados, mal a manhã se entreabra, um por um.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

DE FINGIMENTO UMAS GOTAS E UM SUSPIRO A CONDIZER

Num dia de merda como o de hoje, nem a escrita me apetece. É óbvio que posso encarreirá-la, porfiando e desejando que o fluxo das ideias motrizes se regularize e se dê a ver, qual fio de aguardente a brotar do alambique para regalo da alma e alívio da rouquidão.
Um dia sujo de cinza, com as nuvens postadas cá em baixo, para mais pronto despejo da carga transportada desde o mar. E o que fazer a um dia assim? Vivê-lo, apenas, fingindo-o luminoso e produtor de tramas sensoriais para beber em andamento? Ou aproveitar-lhe o descolorido de catástrofe outoniça e rumar até aos armazéns da memória, onde as lembranças guardadas ainda tenham pernas, braços, olhos, boca, voz, e de nós, sobretudo, guardem lembrança?
Deve ter sido num dia assim que alguém, homem ou deus, inventou o reconforto da gestão masturbatória, vulgo punheta.