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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

DISCORRÊNCIA PELA MARGEM DO CONCEITO DE AMIZADE SOB UNÍVOCA VISÃO

A melhor maneira de nunca perder um amigo é não ter nenhum. E se a esta norma se chamar puro egoísmo, não se lhe retirará sequer uma gota de objectividade. Ter um amigo é bem mais que estar nas graças do amor, tendo com quem ele se construa e reparta. É por isso tão rara a excelsitude de ter um amigo, que perdê-lo equivalerá a perder anos de vida. Registe-se também que não há amigos bons e amigos menos bons. Um amigo é, ou não é. Não se reduz a meio termo ou a nada, tal como não se lhe mede e acrescenta a sombra, quando estendida junto à nossa, na manifesta sem parcimónia do chão.
Ter um amigo ou não ter é ter ensejo de dimensionar a imensidão da própria solidão experimentada. E não porque a noite seja mais noite, ou porque a sarjeta para onde se escoam os dias seja de mais sôfrega tiragem. Amigo é aquele que nos vela o sono que durmamos, quando acordados e a vagar à toa, alheios ao perigo de nos pensarmos a salvo da nossa pequenez de nados-mortos aquém tombo no vazio. Amigo é quem nos suporte a bazófia acima do pescoço, ciente que o saibamos da mentira por nós envergada, abaixo um tanto, como traje de gala a não despir nunca. Amigo será ainda o que com a verdade nos mente, para que dele desconfiemos e não deixemos de nele acreditar. Amigo é pois o gesto utópico de nos contemplarmos ao espelho, sem que de quem de lá nos espreita duvidemos.
E quando um vulgar aperto de mão parece doer mais que a certeza da corda final ao condenado? E quando os olhos se nos humedecem com a saliva que lhes seria lícito cuspir antes da boca? E quando nenhuma forma de dizer nos diz o que não deveríamos ter dito, consumada que se pretenda a discursata de dentes nenhuns a nenhuns ouvidos?
Amigo meu, sou eu. E talvez não.