http://photos1.blogger.com/blogger/4837/2733/1600/moi4.jpg

umbilicativo

A minha foto
Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

SOB A METÁFORA DO VINHEDO QUE NEM MAR OCEANO A PERDER DE VISTA

Esperar que uma ideia amadureça não é o mesmo que andar no meio da vinha a mordiscar um bago aqui e outro além. Uma ideia não tem corpo, não tem mais ou menos cor, não se mordisca. Mas impõe sabor acre ou doçura a quem à luz do dia lhe queira dar voz visível e fingir escutá-la lá dentro, lá no porão da traineira em que nos convençamos a viajar através de nós, a sós, e a pescar de arrasto tudo o que se nos anteponha: peixe e petas, búzios, conchas, algas, destroços de rede ou de cadáveres indevolutos até então, restos de nafta, merda. Toda essa miscelânea de lixo em putrefacção, ou salmoura, que o fundo do mar mental sempre faculta, generoso, a quem, como eu, o revolver.
Pode verificar-se o privilégio de vermos a ideia em suspensão no olhar íntimo, como se à transparência contra a claridade a perscrutássemos e lhe sondássemos o conteúdo. Mais fácil se tornará, num caso desses, fazê-la ser objecto de manuseio e desbaste de correcção e apuro, obra assinável sem pejo, gozo criador como prémio final.
Mas voltemos ao cais de embarque, que horas de almoço vão sendo.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

AO PASMO ANTE A SÚBITA NOTÍCIA DA MORTE DE GENTE AMIGA

A morte mata mais quem fica, que quem vai. Ou, no mínimo, dói bem menos a quem morre, que a quem lhe sobreviva. A morte de quem vê chegada a hora de embarque é momentânea, e a dor de partir morre com ela, enquanto a outra, a de quem se arrepele de impotência, esse roedoiro poderá perdurar anos e anos a fio, até que a mó do tempo se encarregue de reduzir a pó uma e outra em uma só.
Antes a morte morta, que a morte em vida. Ou nenhuma, quando no cais esteja alguém cujo bilhete tanto gostaríamos de ter comprado em seu lugar.

domingo, 3 de setembro de 2006

LITANIA EM FUNÇÃO DO VELHO VÍCIO DE SALTAR CEDO DA CAMA

Através da janela, o breu quase total, a noite ainda. Tanto de dentro para fora como em sentido inverso. Um carro ou outro a passar, sem alarido de susto, talvez de volta ao ninho e a tempo ainda de cochilar uns minutos antes do banho e da barba. E além mais, na constelação de candeeiros e janelas iluminadas, a instantânea incandescência de um fósforo, ou de um isqueiro, a dizer de alguém na treva. É que ali, naquela janela, entre tantas outras, tão obscuras como olhos crentes ao postigo do confessionário, não se vê uma gota de luz. Nem sequer um bosquejo de lume de cigarro. Será longe de mais para que o fumo inebrie. Mas há por lá olhos acesos. E por cá também.