COMO DESCULPA DOS BOCEJOS SUBA O PANO
Hoje, de manhã, acordei imbuído pela languidez experimentada por quem regresse de uma viagem de sonho. Pena é que me não recorde do que teria sonhado: se acompanhado ou a sós, por onde, quando e como, em que desempenho, activo ou passivo, protagonista ou mero figurante à espera atrás do pano. E agora, porque me sei dramaturgo e actor de uma peça levada ao palco, por mim, em mim, para mim, e que em verdade consciente nunca eu vi representada, tenho andado entretido a rebuscar-me por dentro, como quem apalpa as muralhas de um labirinto em busca da luz de libertação. E se por acaso eu vier a encontrar a saída, quererei mesmo ultrapassá-la? Não me será mais grato, após o hipotético restauro do itinerário onírico, promover-lhe uma reedição em contínuo, página a página, imbuído pela languidez que hoje, de manhã cedo, acordou comigo e comigo se tem mantido, na vastidão da plateia, embora às escuras?