À SÃO, O GESTO PORVENTURA FÚTIL DE NÃO CONSEGUIR ESTAR CALADO (I)
Com claro e já apaziguado entendimento do mal que a consome, uma grande muito grande amiga minha está a morrer. E nestes momentos, mistos de incredulidade e raiva inútil, é que eu meço a distância entre quem virei sendo agora, ainda aquém do salto libertário, e quem serei depois, após a ultimação da remessa à posteridade desinteressada em ser pegada no lameiro circunstante ou borradela em merda própria, à impostura complacente nas conversas entre os antigos companheiros de travessia, ao mais que fundamentado silêncio enfim gritado ante a surdez criminosa que o fez ouvir. De que me vale, porém, ou de que te vale a ti, boa amiga, esta assunção da nulidade da extensão da estrada compulsiva entre um eu e outro, se sempre foi e será um eu qualquer, e não um qualquer outro, a impor-se como primeira urgência deposta na balança onde se pese o mal que nos corroa em outrem?
Até breve, amiga.
Até breve, amiga.
(Em Guiães, aos 17 de Janeiro de 2010)
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