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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

GUIÃES, ENTRE A CIDADE E AS SERRAS QUE O EÇA CALCORREOU (V)

Passa um tractor na rua, calcetada e estreita e com robustos paredões de cada lado, e tudo aparenta estremecer. Até o ar se agasta e disso dá sinal nos cortinados. Fingindo ignorar o encontrão para trás com que o saudosismo retrógrado (igualzinho ao que acompanha os ponteiros do relógio) tem por costume denunciar-se, reconstruo na mente a paz pachorrenta dos carros de bois de outras eras, a chiadeira das rodas e os brados de simulada impaciência do camponês condutor, o resvalar sem susto das patorras desferradas no empedrado, aquele odor ímpar das bostas alijadas do alto sem parcimónia como bostas, a iniquidade pontual do aguilhão não simulada, a danação dos milhares de moscas trazida a reboque pela cauda, e sinto pena. Mas o tractor é veloz e já lá vai longe, levando o bramido das válvulas para onde lhe requeiram os serviços com celeridade e eficiência, enquanto a mansidão da parelha ruminante, apesar da poética passadista recomendada por um ou por outro sentido, nem ao fundo da rua, e a descer, teria chegado. Malhas que o império tece, como disse o vate dos heterónimos a propósito de outra conversa bisonha de que fazia parte um miúdo, um lenço e uma cigarreira breve. E não sei se na actual conjuntura não será mais caro um molho de erva, ou de palha, para os cornúpetos, que o carburante exigido pelo tractor.