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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

AINDA ESTE GOZO DE BRINCAR AOS POLÍCIAS E LADRÕES COM FISGAS DE TEMPO A SÉRIO

Tem estado um frio de tal ordem, que até os pensamentos se coíbem de vir à tona do intelecto. O instinto basta, contudo. Ou tem bastado, no mínimo, fingindo-se atento à acentuação do declínio, como se lhe pudesse assistir alguma circunstância em que a genuinidade da ideia nele encontrasse sucedâneo autorizado. E assim se faz apresentar em palco a farsa da vida: chamando instinto a esta espécie de lodo que a boca experimenta, quando se pretenda justificar, ou disfarçar, a falta de entendimento em relação ao próprio vácuo mental. É como exigir à sola dos pés suficiência de robustez ao calcar espinhos, e na mesma topada acusá-la da estultícia de ter dispensado os sapatos.
A geada neve dos pelintras?— tem atacado. E é vê-la, ao nascer do sol, esborrifada nas ervas, que os cães persistem em mordiscar como purgante, e a enregelar a água dos olhos, só de a ver. Como será tê-la por companheira de cama, seja a dita cama um banco de jardim sem polícias perto, um relvado municipal num qualquer parque, o portal de algum prédio sobre cartões e jornais relidos, uma gare ferroviária sem cuidado a ter com malas nem bilhete no orçamento previsto, um carro estampado e condenado à rataria entre lixo urbano e cagadelas de pomba a escorrer pelos vidros? O melhor é não deixar que o sol se deite, nem cedo nem tarde de mais, e ir ganhando balanço para que a subida final não custe tanto. E não pensar em cenários tétricos, como essa caturrice da geada a ser parceira de cama, se até na penugem de maior recato dá para sentir arrepios. Ainda.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

RUMINAÇÕES DE SERÔDIA APROXIMAÇÃO AO OUTRO LADO DA COISA

A arte da pintura, com as demais bem embrulhadas no mesmo trapo de serapilheira encharcado e fétido, demonstra ter como lhe cumpre ingredientes capazes de a transformar, sob simultânea emanação de olímpicas névoas, em apogeu de grandiloquência e de miserabilismo, o tosco e o sublime numa demão, céu e chão a nível igual. Tão bela e arrebatadora poderá ser a exaltação pura e simples da natureza, por exemplo, posta ao serviço do arbítrio interpretativo, como cáustico e confrangedor se pode entender o exercício cometido na reprodução, fidedigna, à minúcia, de quanto ao olhar se anteponha sem retoques nem emendas, sem poses e respectivas cãibras consoante quem. Mas a questão dominante é o que é e o que não é arte. O que hoje não é e ontem era. Ou o que ontem não era e amanhã virá a ser, porque hoje já o virá sendo. Ou o que nunca foi, não é, não será nunca. Ou o que à tona da evidência consegue sê-lo antes ainda de o ser. E isto sem içar estandartes ou pendões quaisquer em apoio da concretude abstracta ou vice-versa. Nem entrar demasiado na destrinça entre o aleatório e a objectividade criativa controlada pela vontade. Nem tomar partido acerca da opção relativa aos materiais, aos suportes, às ferramentas, à obediência a tema prévio ou não, à presunção do discurso implícito segundo signos de legibilidade universal.
E depois há a questão daquela meia dúzia de espertos que sempre se atribuem a função ditatorial de estabelecer tabelas, definir conceitos e estratégias, promover nomes e nomenclaturas, dar sumiço aos que deles não aceitem a lisonja de beber pela mesma taça, puxar o lustro contabilizável a obras e obreiros à sua mercê, monopolizar atenções e levá-las ao pasto, que nem pastores de cajado e canzarrão. São eles os grandes senhores da coutada, é deles a escolha das portas de tiro, e por eles será feita a distribuição das peças de caça abatidas. E embora pouco ou nada saibam de pintura em pura prática, são redactores de tratados e compêndios sobre a matéria, teorizam acerca daquilo que no imo dos artistas se guardará como se lá tivessem entrada, e disso tudo sempre vão obtendo maior e mais rico sustento que os próprios serviçais da causa em causa.
E ainda há aquelas muitas interrogações sem respostas convincentes nem exaustão na demanda, como não saber se não haverá heresia na atitude de não gostar da obra de alguns mestres, ou se não se tomará por crime de profanação nem olhar tal obra ao tê-la adiante da birra, ou onde principia e termina essa noção de mestria, ou por que senda prosseguir a marcha contra a inércia, quando as falésias da ilusão se desmoronem, soterrando qualquer hipótese de estrada. O caminho a percorrer aponta em frente, embora sempre subsista a possibilidade de o fazer às arrecuas, em marcha atrás. E por falar em marcha atrás, aconselhável será, porque o chão escorrega, ficar por aqui.