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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

GUIÃES, ENTRE A CIDADE E AS SERRAS QUE O EÇA CALCORREOU (VIII)

A neve veio, durante a madrugada, apresentar-se. Talvez pretendesse, qual irmã rica da outra de menos remedeio na vestimenta, não deixar os créditos por mãos alheias, como é habitual ir dizendo em situações semelhantes. E continua a cair, mortífera, porque associada à chuva e, por isso, àquele outro irmão de remotas aparições, o granizo. A fechar a procissão familiar, imperará sem altercações nem protestos o mano velho, o gelo, como tapete de carreiros ou de estradas, ou nos charcos da berma e nos riachos espontâneos e de imediato petrificados, ou ao transformar-se em vítreos pingentes de beirais e arvoredo, ou no ar e neste patético desespero de alguém irromper aos pinotes e a esfregar as mãos uma outra até aos ossos. Quando toca a rebate, nada a fazer, se aquilo que se ouve bater são os próprios dentes.
Que maravilha é, na verdade, olhar a neve e andar sobre ela, ouvir-lhe o brando rechinar impresso a cada passo, ou até pegar-lhe e senti-la a derreter-se ao calor ou a enrijar sob o aperto dos dedos. A mais terna e doce das maneiras de a ver, palpar, escutar, e até cheirar, contudo, é em fotografia ou em filme, ou na memória a que a demasia de anos já empreste condescendência. Há lá coisa mais sã que a luminosidade e o afago que o nosso sol granjeia a quem o ame e respeite?