EM VÓRTICES DE AVIÁRIO NÃO SE VEJA SE SE TEM OVO A PARIR
Na outra margem da memória guarda-se apenas tudo o que nós não gostaríamos de relembrar como nosso. E é a ferros o degredo de tais deslembranças, muito capazes de envenenar toda a torrente lançada desde a nascença até à inevitabilidade da foz. O que somos, ante nós, não é nunca o mesmo que seremos ante olhos de outrem, atentos ou alheios ao escárnio da mentira que enverguemos para nossa própria defensão. Falacioso é afirmar-se imunidade à revelação, involuntária ou por opção estratégica, daquilo que só nós saibamos retido em nós e até de nós já seja parte integrante, tal-qualmente ossos e músculos, vasos sanguíneos, nervos, neurónios, ideias, vícios de idade decalcada sobre a nossa. Tudo o que sem equívoco somos, fomos, pretendamos ser, só nós em nós, bem nas falésias por onde se nos arrasta e desfaz e precipita o glaciar da existência, saberemos.