OU AMÁLGAMA OU ATERRO ONDE É LÍCITO O DESPEJO DA PRÓPRIA SOMBRA
Um trabalho de minúcia. São pequenos nadas de nada que a sós nada significam e em conjunto muito valem. Tal qual a arte dos relojoeiros, cujas ferramentas — pinças mínimas, chaves de fendas, alicates, lupas e outras — os submetem ao castigo das dimensões de brinquedo e em que a obra final parece ter vida própria, sendo que essa mesma vida é apenas a contagem do tempo de vida, afinal, a descontar. Ou então os lapidadores de pedras preciosas, com os diamantes lá no alto, porque maiores que a utopia de transformar pedregulhos rombos em cristais de brilho ímpar, e também eles condenados a morrer atrás de lentes e instrumentos minorcas. E logo os ourives, prossecutores naturais dos segundos nesta lista, porque de idêntica maneira obrigados a valer-se dos vidros de aumento aquando das lucubrações criativas, sejam elas de ouro, de prata ou de lata com pedrinhas condizentes. Ou a mestria dos restauradores de obras de arte longérrima, fanáticos na repintura a primor do que antes talvez nem fosse assim tanto. Ou os devotos da infinitude microscópica, pesquisadores da pequenez gigantesca sob a égide da ciência médica e de outras, quando apontadas ao extermínio de maleitas de mais nítida perigosidade. Ou os navegantes do oceano cósmico, que através de telescópios içam as velas, audazes, a caminho de lado nenhum já conhecido, e lá aportam aos mais remotos dos cais primeiro que toda a gente. Concluindo, do âmago de cada uma destas labutas, e não apenas, haverá um nico no exercício da escrita.
Guiães, 19 de Setembro de 2008