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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

SOB A METÁFORA DO VINHEDO QUE NEM MAR OCEANO A PERDER DE VISTA

Esperar que uma ideia amadureça não é o mesmo que andar no meio da vinha a mordiscar um bago aqui e outro além. Uma ideia não tem corpo, não tem mais ou menos cor, não se mordisca. Mas impõe sabor acre ou doçura a quem à luz do dia lhe queira dar voz visível e fingir escutá-la lá dentro, lá no porão da traineira em que nos convençamos a viajar através de nós, a sós, e a pescar de arrasto tudo o que se nos anteponha: peixe e petas, búzios, conchas, algas, destroços de rede ou de cadáveres indevolutos até então, restos de nafta, merda. Toda essa miscelânea de lixo em putrefacção, ou salmoura, que o fundo do mar mental sempre faculta, generoso, a quem, como eu, o revolver.
Pode verificar-se o privilégio de vermos a ideia em suspensão no olhar íntimo, como se à transparência contra a claridade a perscrutássemos e lhe sondássemos o conteúdo. Mais fácil se tornará, num caso desses, fazê-la ser objecto de manuseio e desbaste de correcção e apuro, obra assinável sem pejo, gozo criador como prémio final.
Mas voltemos ao cais de embarque, que horas de almoço vão sendo.