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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

MADRIGAL A RELEITURA JÁ QUE O PASSADO NÃO É SENÃO FUTURO INVERSO

"GOTA A GOTA EM CHÃO MOLHADO"
Abrunheiro-Coimbra/1994
óleo s/ tela - 60 x 100 cm (colecção do pintor)
*
Espreitando por cima da muralha fronteiriça, o leão imperial, a besta sagrada, presa e predador, cativo e carcereiro, algoz e sentenciado ao garrote universal. Calça luvas de couro e tem o tempo com ele. E tem também, por detrás, a servir de pano de fundo, um céu verticalizado e pintado de acordo com o espectro solar, esse impreciso sortilégio das cores do arco-íris. Quem sustentará a corrente de ferro que lhe retém os bramidos e a sanha em cima do muro?
E aquém, a verdade. A miséria lançada ao assalto, por escadas de pau, contra o ferro previsível. Há que tentar. Há que avançar. O mostrengo dormita com os olhos abertos. Do fundo dos séculos não vale a pena esperar por grandes lições. São vícios tão sórdidos como mordiscar o sarro das unhas em busca de ideias.
O rio, longilíneo, ainda que verdilhento de fundões e limos, mal dará vapor de água a quem sede tenha. E o chão está gretado. A vida parou
na berma da estrada. Em frente, no meio de incógnitas mais espessas que o desvão da noite visível por olhos cegos, há-de abrir-se, ou não, a rota a perseguir através do rasto delineado por algum cometa. E de lá de baixo, ou seja de trás, do fosso da merda que me fez nascer sem ser consultado, a corda está podre e a escada é mentira.
Vem lá o comboio. Pousai o ouvido na linha, que logo o ouvireis.