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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

"DO ANTES AO APÓS O MEIO FICA", EMBORA POUCO TENHA A VER O CU COM AS CALÇAS

"DO ANTES AO APÓS O MEIO FICA"
Abrunheiro-Coimbra/1995
óleo s/ tela - 60 x 100 cm (colecção do pintor)
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Nasci num beco. Parente próximo de qualquer beco, sem saída e sem argumentação que o desculpe. Ora, desse eu ouvidos à pantomina de premonições e derivantes, e talvez me convencesse, neste entretanto, de que o beco onde hoje me sinto e julgo ver já me fora anunciado à nascença. Mas não convenço. O beco de agora não é físico. Não tem paredes de adobe e salitre, nem chão de calçada a desfazer-se no meio de valetas malcheirosas. E se disto nele houver, bem como postigos à coca de quem passe em frente, será uma consequência de mim. Sou eu que escorro por tais valetas, que nelas me lavo e purifico e me dou à vilanagem de nelas me saber estendido entre vómitos, como estes, de olhos e mãos à venda a quem mais der. E também terei sido eu, só eu, que lhe dei esta arquitectura de degredo entre evasões desperdiçadas e solícitas penas de prisão intemporal. Mas para quê explicar agora o que explicação nunca teve, não tem, nem terá nunca? No fim de tudo, varridos os restos, este beco serei eu: pedinte e esmoler, cantaroleiro de esquina e público enfadado, palhaço e espelho onde o riso alcance forma de eco e alguém se ria sem saber de quê.