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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

domingo, 11 de outubro de 2009

GUIÃES, ENTRE A CIDADE E AS SERRAS QUE O EÇA CALCORREOU (III)

Toda a gente dorme e ressona, até os cães, lá dentro. E mais lá dentro ainda, na escuridão da sala de espectáculos do subconsciente de cada qual, tornar-se-ão visíveis e sobrepor-se-ão com e sem vínculo filmes de e para todas as idades, curtas e longas metragens entrecortadas ou arrastadas de ponta a ponta, cenas macabras, grotescas, assombrosas de assustar fantasmagorias ou hilariantes no assalto às profundas do arquivo, se fácil de mais é o acesso, e até o recheio pode tornar-se em substância a esbulhar, quando se sonhe em voz alta. E o protagonista principal também vem a ser autor do guião e sonoplasta e homem da câmara e editor e realizador e até produtor, se sobre ele sempre recai a obrigatividade de aguentar as despesas, haja ou não orçamento com resistência às correntes de ar pelos buracos da fita, quando nenhuma hipótese de prémio, no fim, lhe traga fôlego. Não deixará, contudo, de se observar e com estranheza, na maior parte das vezes (no meu caso, por exemplo), que nada do enredo vivido se fixe, se deixe enclausurar na bobina da lembrança, e logo se torne em oferenda ao caruncho das inutilidades guardadas sem qualquer préstimo à vista.
E os cães, esses felizardos, com que sonharão eles? Porque sonham, lá isso sonham, ninguém duvide. E falam alto, riem, gemem, atravessam paisagens tão deslumbrantes como as nossas, estremecem ante iguais sustos enfrentados, arremedam o embuste do amor como nós. Pena é que não vão ao cinema.