http://photos1.blogger.com/blogger/4837/2733/1600/moi4.jpg
A minha foto
Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

domingo, 18 de maio de 2008

ONDE SE PROVA QUE NOSTALGIA E SAUDADE NÃO SÃO MESMO A MESMA COISA

Chove. E porque é que não haveria de chover, se este virar de página primaveril é disso mesmo ou pior? Ainda assim, é outra vez a chuva a desbaratar-lhe alguns projectos já antigos de ataque ao passado, com auspiciosa revisita a devaneios nunca em demasia abraçados, porque também nunca em seu tempo viçoso confrontados com o medo de os perder. E perder o quê? Como poderia alguém perder aquilo que não tinha, que não teve nunca, que nem agora sabe se virá a ter? A chuva, de acordo com as nuvens quase tangíveis em cada gesto, ainda acaba por lhe servir de desculpa de mais um falhanço, mais um adiamento, mais uns tantos anos de planos a desbaratar por qualquer temporal de indesejável amplitude, seja qual for a estação do ano. Que chova e troveje, que acudam relâmpagos e trovões sacudam quanto de pé se equilibre e de pé tencione vangloriar-se. Que se foda a chuva. Lá irei na mesma, mesmo sem gabardina nem chapéu ou boina. Mesmo sem mim a servir de guia, eu lá iria sem ir.
Voltar a pisar lugares de que nem a lembrança se lembra, se perdidas vão as referências do trajecto vital então seguido, nada nos mostra já de inesperado. Tudo estará tão diferente, ainda que igual. Barrancos, carreiros, pedregulhos, vinhedos, pomares. Tudo por aí se deixa ver como antes, mas nada como antes se vê. A culpa? É dos olhos. Quem os mandou abalar, à aventura, quando tanto havia ainda a desbravar por aqui? E que veriam eles, afinal, nesse entretanto de décadas, que cá não pudessem ver, decifrar, apreender?
Quem me dera voltar lá e ver ainda os meus olhos reflectidos noutros olhos que eu cá sei. Estavam verdes, as uvas, ou os meus braços eram tão curtos, que não lhes puderam chegar.