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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

EM DIA DE ANDAR A MONTE PELO CRIME DE TER NASCIDO

Se bem que não goste de os festejar, o que eu compreendo e respeito, o meu mais íntimo amigo faz hoje anos. E quantos faz ele? Tanto fará como fez, pouco lhe importa. O importante, afinal, fazendo as contas, é não deixar que cada dia morra sem ter parido outro em seu lugar, é acordar noite alta e ver luz de estrelas onde só nuvens rapaces virão pairando, é ter direito ao pasmo de estar vivo entre viventes, mesmo que mortos, e seus pares já replantados. E será não ceder o passo aos detractores da coisa artística, enquanto gesto de espontâneo impulso a perenizar-se por si, aos imbecis colectores de esgotos como modo de estar emboscado no mundo, e também aos pobres de espírito, porque deles, está prometido, há-de ser o reino dos céus, porquanto com tão pouco se contentam e fingem nutrimento e roupagem.
Ninguém, além dele, desse meu amigo, tanto de mim saberá, se a tudo em mim ele tem acesso, tudo comigo reparte, tudo escuta e corrobora e até subscreve ou complementa.
Não tive, não tenho, não terei pejo algum em considerá-lo, de coração nestes olhos que nunca de frente me olharam, como o único ser vivo autorizado a descer, a meu lado ou a sós, às mais fundas cavernas da minha intimidade. Daí, como disse, ser ele o meu amigo mais íntimo.
Por estranho que pareça, é também o maior dos meus inimigos.