http://photos1.blogger.com/blogger/4837/2733/1600/moi4.jpg
A minha foto
Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

EXERCÍCIO DE PARIR UM RIFÃO AO FECHAR A PORTA DA RUA

Uma palavra. Uma palavra lhe bastará para que o assunto se resolva à medida de todos os ouvidos. Até dos mais toscos. Ou mesmo dos que nem sejam senão orelhas. Não uma qualquer palavra, entenda-se. De tantos milhares, que o léxico oficial procurará proteger das invasões a mando do capital, entre outras, uma só terá poderes alquímicos e fará desencadear todo o processo de transformar a vileza do cobre em ouro de lei. Ou, neste caso, de tornar em eloquência a verborreia.
Todavia, onde está ela? Onde se oculta esse código minúsculo de dois ou três fonemas, cinco ou seis, ou mesmo um único? Como muito bem se calcula, ocultar-se-á nesse vertiginoso feixe de ondas íntimas entre o caleidoscópio encefálico e a laringe, o palato, a língua, os dentes, os lábios, as mãos, os olhos. Como dar-lhe voz e pernas? Como libertá-la dos silveirões da memória? Como colhê-la entre as urtigas do olvido e atirá-la pelo ar para que seja pedra e parta vidraças a sério?
No momento em que descobrir de que palavra se trata, terá resolvida a questão fundamental. Mas também terá injustificado a razão de ser da procura a partir de então. Melhor será que a deixe estar onde está, ainda que não imagine onde nem como ir até ela. E qualquer palavra dará, se for aquela que aquele ensejo requerer naquele instante.
Consoante o pau, a paulada e a rachadela.