HEROES DO MAR, NOBRE POVO, NAÇÃO VALENTE, IMMORTAL
É difícil de imaginar uma aventura que não tenha heróis. Há-de haver sempre um, no mínimo. E sobre ele recairão os holofotes da atenção de quem goste de viver aventuras ao serão, depois da ceia, entre dois tragos daquela velhinha de muitas décadas a dormir, engarrafada sem rótulo e resguardada no meio de teias de aranha e fuligem de velhice semelhante em tudo. Até nos efeitos de ilucidez consentida.
Herói, aliás, qualquer um poderá ser. Nos tempos que ora decorrem, basta estar vivo. E por isso, ninguém se pasmará até aos forros, se de repente um extraterrestre se lhe meter portas adentro de microfone em punho, batendo-se pelo furo da reportagem em directo, da notícia a transmitir em primeiríssima mão, para todo o infinito passível de se compartimentar e dar a comer através do ecrã.
E quem diz um extraterrestre, diz uma dessas coisas seriíssimas, sem pés-de-galinha ou demais rugas vadias pescoço acima, que começam e terminam em capas de revista a nunca ler além da capa. Então não apetece mesmo ser herói e dar entrevistas e tudo a uma coisa dessas, a mamar olhos ou a olhar mamas ali tão pedintes como generosas?
Haja crianças que se dependurem de altas janelas, velhos moucos que atravessem linhas férreas à hora exacta, senhoras cuja cachorrinha se perca de amores por algum rafeiro e marche atrelada, turistas a nadar em águas proibidas pelo bom senso, alpinistas sem corda que lhes dê para desistir da escalada e regressar ao sopé devagarinho, feras enfim libertas das grades do circo e dos aplausos ao seu domador, incêndios que venham esturrando prédios com águas-furtadas cheias de mãos a gritar, mineiros soterrados pela desdita de já terem vindo ao mundo como mineiros e órfãos, cegos sem cachorro nem bengala nas horas de ponta, mudos a perorar por instalações sanitárias sob compressão diarreica, cadastrados evadidos a nado pelas tubagens do esgoto, ou náufragos de botifarras de borracha calçadas a cinquenta metros de terra firme, onde há mulheres velhas e novas e arrepelões e preces tudo à mistura num molho. Haja a iminência de desastres, naturais ou fabricados pela incúria, que heróis na medida certa hão-de aparecer e fazer-se ouvir em horário nobre.
E haja então entrevistadoras cujas medidas se imponham aos olhos de qualquer herói cujo feito nem nos interesse assim tanto, afinal.
Herói, aliás, qualquer um poderá ser. Nos tempos que ora decorrem, basta estar vivo. E por isso, ninguém se pasmará até aos forros, se de repente um extraterrestre se lhe meter portas adentro de microfone em punho, batendo-se pelo furo da reportagem em directo, da notícia a transmitir em primeiríssima mão, para todo o infinito passível de se compartimentar e dar a comer através do ecrã.
E quem diz um extraterrestre, diz uma dessas coisas seriíssimas, sem pés-de-galinha ou demais rugas vadias pescoço acima, que começam e terminam em capas de revista a nunca ler além da capa. Então não apetece mesmo ser herói e dar entrevistas e tudo a uma coisa dessas, a mamar olhos ou a olhar mamas ali tão pedintes como generosas?
Haja crianças que se dependurem de altas janelas, velhos moucos que atravessem linhas férreas à hora exacta, senhoras cuja cachorrinha se perca de amores por algum rafeiro e marche atrelada, turistas a nadar em águas proibidas pelo bom senso, alpinistas sem corda que lhes dê para desistir da escalada e regressar ao sopé devagarinho, feras enfim libertas das grades do circo e dos aplausos ao seu domador, incêndios que venham esturrando prédios com águas-furtadas cheias de mãos a gritar, mineiros soterrados pela desdita de já terem vindo ao mundo como mineiros e órfãos, cegos sem cachorro nem bengala nas horas de ponta, mudos a perorar por instalações sanitárias sob compressão diarreica, cadastrados evadidos a nado pelas tubagens do esgoto, ou náufragos de botifarras de borracha calçadas a cinquenta metros de terra firme, onde há mulheres velhas e novas e arrepelões e preces tudo à mistura num molho. Haja a iminência de desastres, naturais ou fabricados pela incúria, que heróis na medida certa hão-de aparecer e fazer-se ouvir em horário nobre.
E haja então entrevistadoras cujas medidas se imponham aos olhos de qualquer herói cujo feito nem nos interesse assim tanto, afinal.
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