http://photos1.blogger.com/blogger/4837/2733/1600/moi4.jpg
A minha foto
Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

terça-feira, 6 de junho de 2006

EM VIAGEM NUMA DE NOSTALGIA VESPERTINO-CECILIANA

Passam vinte e três minutos das quatro horas da tarde. A esta hora, por onde andará ela e a fazer o quê? Paris é uma metrópole gigantesca e com milhões e milhões de habitantes, persistentes, efémeros ou de passagem, naturais, estrangeiros e outros. Com milhares e milhares de automóveis, a voar e a esfumaçar e a esfrangalhar nervos e vidas, numa chinfrineira constante. E com centenas e centenas de jardins e parques e bosques, onde nem sempre só haverá flores e passaritos e cagadelas de celestial pontaria. E com dezenas e dezenas de pontes, trazendo e levando as margens uma à outra, como se as margens se quisessem encontrar de quando em quando ou separar de todo, sem remédio. E até uma ilha, sem oceano que a esconda ou revele a quem à coca de tesouros por aí se perca.

Como encontrá-la? Se houvesse Deus em Paris, talvez ele desse uma ajuda no sentido de reduzir a infinidade de ruas recalcadas à procura. Mas não há. Ou há diversos, cada qual de sua cor e de seu formato, com seus acólitos e coadjuvantes, seus botequins oficiais e seu céu urbanizado à venda por lotes. A qual deles recorrer e jurar fidelidade, acender velas ou rasgar a pele dos joelhos na penedia do chão, para depois obter proventos e lá conseguir enfim descobri-la neste caos de tantas línguas e dentes, cariados ou postiços?

Ainda se ela soubesse que alguém a procura. Mas não sabe. O tempo, desenfreado, escarninho, remordente, lá se encarregou de calafetar as janelas da memória, para que o vento as não injustifique e permita a passagem clandestina das parvoeiras de outrora. O desperdício não tem direito a renovar o contrato com quem dele abusou à tripa forra, como é usual comentar-se em casos de excesso de olhos e escassez de barriga. Portanto, há que pagar o abuso, e com juros. Jura que, se a reencontrares, hás-de vir de Paris até aqui. Pode ser de comboio, de autocarro ou de avião, de bicicleta, tanto faz. A pé, é que não.