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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

terça-feira, 13 de junho de 2006

DA ESCRITA-PINTURA À PINTURA-ESCRITA

A minha escrita em tudo se assemelha à minha pintura. Talvez densa de mais. Talvez crua. Ou talvez mesmo ilegível. Mas consciente. Mas procurada cá dentro, no cavername da galé que me transporta e onde sou remador acorrentado ao remo. Gosto muito daquilo que consigo escrever. Como gosto do que pinto, quando não seja a sobrevivência a impor-me a temática, a técnica, os materiais, as ferramentas, e até a moldura final ou o desprestígio no preço possível.
Publicar ou não, nunca será o mais importante. Mais importante é o gozo que me dá o acto de escrever. Um gozo imediato, íntimo. Capaz de emocionar, por vezes, até ao arrepio dos pêlos mais recônditos do espírito, e de divertir sem demasias, também, para acalmia de certas apetências pessoais de não muito esclarecida objectivação.
Qualquer que seja a forma de expressão, pictórica ou escrita, sempre fui e serei um perfeccionista, já sei. Assumir não custa. Assim fossem todos os meus defeitos, quando de defeitos se trate, o que nem é o caso. Fazer bem o que bem queremos, por mais trabalho que dê, será uma atitude de coerência, de honestidade connosco provinda de nós. É olhar a partir do âmago o que os nossos olhos apreendam na rua e entreguem no âmago, linear mas complexa presunção de labirinto em que não raras vezes nos perdemos, de propósito, do fio recondutor até à porta, onde ninguém esperará por nós de flores na mão. É não pactuar com propostas fáceis só porque sejam fáceis, mas porque não lhes reste um sopro de incógnita, uma vez sujeitas a ponderação por comparação instintiva. E tudo muito bem feitinho. Tudo tão perfeito como flores primaveris na Primavera e uvas maduras no Outono.
Pintar escrevendo, contudo, não é bem a mesma coisa que escrever pintando, como se poderá considerar. Enquanto a escrita se embeleza e enriquece com a aposição de metáforas e demais jogos de palavras em contraste ou harmonia, que o imaginário conseguirá multiplicar sem que se sacie ou desvie do sentido inicial, já o discurso implícito numa tela pressupõe a oferta de tantas hipóteses de leitura, quantas as cabeças vedoras, o que será, de igual maneira, muito rico e muito belo. Mas diferente, bem diferente.
Escrevamos, pois, e pintemos, até que a fome de pintar e de escrever se satisfaça. Quanto à outra, a que rói e faz tolher a pele por dentro, só muito escassos felizardos a satisfarão de todo com escrevinhações ao litro ou pinturices a palmo. Mas isso é já outra história que agora não vem ao caso.