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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

domingo, 14 de maio de 2006

A ÚLTIMA

Há-de haver sempre uma última.
É lindo ver-se, na rua, de mão dada, a passear lado a lado há quarenta e tantos anos, um casal de velhotes. Chegará a fazer inveja aos mais novos. Mas, pergunte-se: o que farão eles de noite? Também serão motivo de inveja? Como e quando terá sido a última vez em que se buscaram e se tiveram? E quando e como se quiseram e já não puderam pela vez primeira? E seria de ambos ou só de um essa falência? E teria acontecido simultaneidade na desapetência gradual a que se renderam e prestaram vassalagem? Não se terá prolongado num deles o sofrimento de querer e não ter com quem?

Façamos com que os dois velhos recuem alguns anos. Quantos anos? Até ao nó górdio dos cinquenta? Eles que recuem até nós, para que nós, em nós e por nós, os observemos.

Não teremos nós também já dado a última?