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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

INDO EU DE LADO ALGUM A NENHURES

Por fim, meto a viola no saco, meto o saco no carro, e meto-me a caminho de casa. Duas ou três, às vezes mais, da madrugada. É este o mais temível momento destas lides. O do regresso, ciente de que a canzoada da polícia anda por aí à espreita. Tenho tido alguma sorte, penso. Mas lá há-de chegar o ensejo em que a sorte me não proteja e eu me veja a contas com a brutidão dos algarismos. Por muito que busque e acometa a evasão através de trajectos menos farejáveis: pinhais, montes, vinhedo, ínsuas, ribanceiras, ermos de sombra perpétua, lugarejos sem nome de gente ou já sem gente com nome.

E por estas e por outras também começo a ficar farto desta vida de cantaroleiro andante, sem cheta nem património. Uma espécie de palhaço gratuito com que se entretêm serões e seroeiros, qual reedição quixotesca entre moinhos sem vento nem pão que moer. Não fora a viola e a voz, não fosse a acrimónia das letras, e onde estariam tantos convites? Haja vinho, haja com que ensopá-lo ao ensopar-se quem beba, e haverá tretas a metro ou a peso durante uma noite inteira, de lés a lés.

Há que parar, antes que um dia pare, sem querer, na berma da estrada de nenhures a lado algum.