DÉDALO OU ÍCARO, TANTO FAZ COMO FARÁ
Passarão poucos minutos das seis da manhã. Não trago relógio comigo. Resolvi deixar o tempo em casa, como se a fuga, assim, me fosse mais lícita. É claro que chamar-se fuga a isto, será mera ironia. Quando muito, chamar-se-lhe-ia consciente afastamento da rota com muito fortes probabilidades de retorno. Mas isso seriam já, com todo o seu carrego dialéctico em suspensão, demasiadas palavras para definir este meu tão fugaz ensaio de asas, esta espécie de prévia palpação do terreno a abandonar um dia. Aquele dia em que o meu já antigo projecto – este sim, a sério – de me sumir no ar, sem rasto e sem deixar saudades, seja em quem for, nem as levar, seja de quem for, for posto em prática.
<< Home