DA RESSACA VADIA À LUPA E AO PELOURINHO
Deitei-me ontem tão tarde, que em vez de ser hoje já era amanhã. De hoje só tenho o musgo na boca que me sabe a ontem. E depois de amanhã? E depois de depois? Um dia há-de vir em que me deitarei tão tarde, que me não levantarei mais. Mas isso será sempre após o depois de depois. E depois se verá, com sede ou com sarro que a sede não cure e até favoreça e em mim se multiplique ao sabor do abuso. E o sarro na gorja nem é de todo negativo: faz-nos ver hoje o que ontem não vimos. Os olhos embaciados, porque só vêem de fora para fora e não lá para dentro, não guardam memória que amanhã nos mereça lentes de aumento e pública amostragem na praça. Se o hoje está baço, há que decantá-lo e pô-lo em repouso.
Sirva-se vivo.
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