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PINTOR, POETA E CANTOR, OU FAZEDOR DE COISAS LINDAS COM AS DUAS MÃOS E NÃO SÓ.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

NOSTALGIA DEPENICADA À DISTÂNCIA DE QUANTOS ANOS SE CONFESSEM

Voltar aos caminhos corridos na infância não significa voltar ao tempo dela. Tudo é tão igual e tão diferente. São outros os olhos, sendo ainda os mesmos. Outra, a verdade contornável pela razão. E até os perigos vividos os muros galgados noite arriba, os troncos de árvore trepados a pulso e arreganho de artelhos nus, as vertentes escaladas do sopé ao céu, as águas do rio sem fundo nem barco, as fomes malsofridas com fruta roubada−, parecem ter agora menores dimensões e nenhum susto a multiplicá-las.
Este ressalto de terra acima das vinhas, por exemplo, que foi barbacã de olhos e tremuras, ainda cá está. E ainda cá está o ínvio carreiro, de dia, que à noite seria a rota da seda, apesar da praga de silvas e cardos à escolha. E os poços e charcos de apedrejar rãs sem culpa formada nem direito a recurso. E os pátios traseiros de espreitar janelas entreabertas por deslize ou maroteira. E o velho miradouro de mirar as putas a alisar o feno por debaixo de oliveiras e carvalhos. E esta estrada, de longe até longe, a passar tão perto de não parar nunca. E um ou outro cheiro guardado entre os muitos cheiros guardados sem querer. E uma ou outra história de gentes cuja memória morreu antes delas. Tudo o que foi tudo, tendo sido ou não, e hoje nada é, sendo tudo ainda.
São os mesmos olhos, são. Só que já são outros.