DA INDEGLUTIBILIDADE À UTOPIA RANÇOSA
Reviver é relembrar. Não é viver outra vez. E é triste que viver não seja. Que bom seria irromper cérebro adentro, virar de pantanas toda a existência tão arrumadinha e condimentada como a temos tido, ignorar a perfídia do espartilho nos comentários adversos, percorrer às arrecuas quantas décadas percorridas já contarmos, e repisar então caminhos nem pisados, rever olhos que jamais nos terão olhado, reconstruir palavras que imaginamos ter dito e nunca nos soubemos ouvir, arder de novo febrões de pele ao léu a cavalgar dunas em pêlo noite arriba, arremeter as mil e uma loucuras que por medo ou pudor intestino nem ousámos pressupor. E de sobremodo evitar as asneiras cometidas, que tantas foram. Era o tempo de as cometer, é um facto. Mas se àquele tempo imbecil hoje pudéssemos voltar, já não cometeríamos essas, pois não.
Cometeríamos outras.
Cometeríamos outras.
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